domingo, 25 de novembro de 2012

 
(...) Viver poeticamente é olhar a vida com olhos sensíveis para ver a beleza transformativa que a natureza promove ao sabor das ondas; para ver, nos comportamentos humanos espontâneos, os gestos naturais de desprendimento; para beirar o rio e sentir o vento frio na fronte a soprar; sentar na ribanceira para descansar, cortar a paia na folha seca e pitar, ouvindo ao longe, no silêncio por entre as folhas, o canto do sabiá.
Viver poeticamente é mandar flores, não somente para agradar, mas para fazer aflorar a sensibilidade de quem recebe, e deleitar-se com um simples gesto de carinho.
Viver poeticamente é despertar antes de o dia chegar, anteceder aos raios do sol e contemplar o rastro da noite desaparecer no horizonte; andar a pé pelo caminho de leito estreito e ornamentado pelo capim ainda encharcado de orvalho, para decantá-lo por entre os dedos “sandaliados”, como se desvirginasse o novo dia.
Viver poeticamente é vivenciar a vida, desde a simplicidade do tic tac do relógio aos mistérios do arco-íris no céu de chuvas vespertinas. É olhar a chuva pela janela, sentir saudade de alguém distante, e até o cheiro por um instante, trazendo lembranças tantas. É calar a voz pra dizer sentindo, em sussurros que morem no peito, tudo que a alma deseja.
Viver poeticamente é contemplar o amor de uma mãe amamentando o filho, despindo-se de todos os demais sentimentos para viver apenas esse.
Viver poeticamente é conseguir dizer: te amo, sem pronunciar palavras.
Viver poeticamente é fazer o bem até a quem nem sabe distingui-lo do mal.
Viver poeticamente é admitir que o horizonte seja apenas uma linha imaginária que sempre se afasta quando nos aproximamos
Viver poeticamente é reconhecer que tudo o que sabe é muito pouco, diante do que precisa aprender do mundo.
Viver poeticamente é desprender-se da vaidade e ver-se pequenino diante da grandeza de quem admiramos, e nos mostrarmos com essa humildade.
Viver poeticamente é encontrar nos gestos o que as palavras não conseguem dizer. Viver poeticamente não é fazer poesia, mas viver a poesia em cada momento da vida.

- José Ribeiro de Oliveira

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"Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima.
Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar"