quinta-feira, 12 de abril de 2012

Uma história de (des)amor que não é a minha - parte XV


Na Figueira
***Maria***
Finalmente chegamos, não levamos muito tempo é certo, mas as viagens de autocarro são sempre gastantes, mas saber que tenho à minha frente muito sol, muita praia e muita diversão fico logo em altas.
Maria: Olá ‘vó
Avó: Olá meu docinho, como estão as coisas? E a tua mãe?
Maria: Está tudo bem, obrigada por nos receber, a avó é um anjo. A mãe está a trabalhar, a avó sabe como é que é os tribunais só fecham em Agosto…
Avó: A casa também é tua. Embora os teus pais estejam separados vocês continuam a ser a minha família, e tu e a tua mãe são sempre bem-vindas. E a avó adora-te ter cá.
Maria: Eu sei avó, nós também a adoramos…
Abraço-a, sinceramente já tinha imensas saudades dela, desta casa, deste ar… Tudo isto cheira-me a infância. Fui muito feliz aqui! E nota-se que a minha avó também está feliz por me ter por perto, afinal sempre fui a menina dos olhos dela.
(…)
Salvador: Mary nós vamos dar uma volta para ver como é o ambiente, vens?
Maria: Não sal, hoje vou ficar por casa, ser um diazinho da minha avó… Temos de as mimar.
Salvador: Compreendo pequenina, até logo então (beija-me na testa, e sai)
Hoje sou toda da minha avó, temos de mimar o que é nosso, e muitas vezes os avós caem em esquecimento, e morrem na sua própria solidão e eu não quero nada disso para quem sempre se preocupou comigo e deu-me uma infância gorda de emoções.

Avó: Querida não queres comer nada?
Maria: Não avó, obrigada
Avó: Tens de te alimentar, estás muito magrinha.
Maria: Eu comi pelo caminho avó, não se preocupe
Avó: Mas essas comidas que vocês tem a mania de comer são todas de plástico só vós faz é mal
Maria: Oh ‘vó você e o lado maternal…Avó, tem falado com o pai?
Avó: Esse é outro velhaco nunca mais me disse nada, a última coisa que soube dele foi por uma carta que me mandou, nada mais. Às vezes pergunto-me onde fui que errei como mãe…
Maria: Eu compreendo-a tão bem avó, sabe eu compreendo que a vida esteja difícil mas comparando a minha vida com as dos meus amigos, nós não estávamos propriamente em crise. Todos os anos fazíamos duas a três viagens por ano, vivíamos bem até, não entendo esta mudança do pai, ainda por cima deixou-me a mim e à minha mãe. A mãe pode não me contar nada mas eu sei que ela sofre, principalmente por mim. O pai sempre me prometeu que voltava…
Avó: E vai voltar meu anjo, se Deus quiser vai voltar
Maria: Sabe avó eu já não acredito em nenhuma das palavras que ele me mencionou na sua partida, prometeu-me também que me ligava todos os dias, se pudesse ou então apenas ao fim-de-semana, esperei pela sua chamada a dizer se tinha ou não chegado bem, mas nem isso recebi. É duro para uma criança de oito anos, a mãe sempre me deu desculpas para aconchegar-me e aquecer o coração. Criança essa que já não sou e já não se aconchega com essas simples desculpas. E orgulho muito a força que a mãe teve, fazer papel de pai e mãe é muito difícil mas a bem ou a mal a mãe lá se esforçou e hoje não preciso dele. Apesar de ser pai, mas filha, também é sempre filha e não se esquece assim…
Avó: A tua mãe sempre foi uma grande lutadora, e não merecia o teu pai, nem sei o que ela viu nele, é meu filho é verdade mas nunca a estimou na perfeição, sempre o desculpou. Para dois defeitos arranjava sempre uma qualidade, lembro-me tão bem das nossas conversas. És igualzinha a ela, tinha era uns grandes olhos azuis que brilhavam cada vez que se falava do Santiago.
Maria: Como é que era o amor do pai e da mãe?
Avó: A Denise era louca por ele, o Santiago também, mas não tanto como a tua mãe, lembro-me de virem os dois cá para casa sempre depois das aulas, diziam sempre que eram amigos, isto logo no início. Mas sempre soube, que se amavam, eram um casal feliz, mas a tua mãe não teve muita sorte com o sapudo do meu filho.
Maria: Eu lembro-me que eram felizes, éramos muito unidos, no infantário as minhas coleguinhas comentavam sempre… Por isso é que também não entendo o que aconteceu ao pai. Ter-nos deixado assim do nada, não faz sentido.
Avó: A avó também não, mas um dia ele terá muito que nos explicar
Maria: A avó não tem contacto nenhum dele?
Avó: Tenho a carta que te falei, lá vem um número, mas está tão pequeno que a avó por mais que queria ligar já não o consegue ver, e não quero dar a carta a nenhuma vizinha para ler…
Maria: A avó podia ir buscar a carta? Assim ficávamos a saber se ainda é o mesmo número…

Peço-vos desculpas por esta grande ausência, mas estive de férias, e férias são sempre férias.
Muitas Migalhas Felizes

2 comentários:

"Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima.
Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar"